segunda-feira, junho 01, 2009

Vi, gostei e recomendo pra junho/2009 - Por Elis Campos

Olá a todos!

Estive mergulhada nos estudos nos últimos meses e, como sempre, quem mais sofre é o Sete. Mas agora em minhas pré-férias, espero poder atualizá-lo com mais freqüência.
No mais, tive a maravilhosa oportunidade de ir ao 62º Festival de Cannes. Fui na sexta-feira, 22 de maio, e vi dois filmes: "The imaginarium of Doctor Parnassus", de Terry Gilliam e "The time that remains", de Elia Sulleiman.
É uma sensaçao bastante incomum sentir-se como um pedacinho daquilo tudo! O Festival é uma lenda, e Cannes se transforma completamente por causa dele. Foi uma experiência inesquecível! Conto mais depois.
Vamos ao "Vi, gostei e recomendo" de junho:


"Coronel Redl" (Oberst Redl - 1985; dir.: István Szabó)


"Coronel Redl" faz parte de uma belíssima trilogia baseada no trabalho do diretor húngaro István Szabó em conjunto com o ator austríaco Klaus Maria Brandauer. Ela se completa com "Mephisto" (1981) e "Hanussen" (1988).
"Mephisto", pra mim, é uma das coisas mais lindas já feitas em matéria de interpretaçao. É impossível nao assistir à saga de triunfo e queda do ator Hendrik Hoefgen, interpretado por Brandauer, sem babar diante de tao brilhante encarnaçao de um personagem. Depois que a gente assiste "Mephisto", dá pra perceber que Brandauer é um paradigma da genialidade de um ator em cena.
"Coronel Redl" continua a nos fazer derramar saliva diante da tela. Ele conta a história verídica de um oficial do exército austro-húngaro, Alfred Redl, fidelíssimo ao imperador, que tem sua carreira levada aos limites por causa de sua decepçao diante da realidade e de sua vida dupla de hetero/homossexualismo.
A direçao de arte de Szabó perfeita, como sempre, e as brilhantes atuaçoes (de Brandauer, evidentemente, e de Armin Mueller-Stahl) nos fazem mergulhar no universo das tramas políticas forjadas pelo desejo de poder, e no mundo de aparências da alta sociedade do período do império austro-húngaro. Sensacional.


"O diabo" (Diabel - 1972; dir.: Andrjez Zulawski)


Um filme que requer um conhecimento básico sobre a história da Polônia, um país com um passado de constantes invasoes, ocupado e explorado por outros povos.
Jakub, um jovem de família nobre, é solto da cadeia durante a invasao prussiana à Polônia em 1793. O misterioso homem que o solta lhe envia de volta pra casa, acompanhado de uma freira.
Jakub chega à sua terra natal, e descobre a família e a casa completamente devastadas: o pai se suicidou, a mae - desaparecida há muito tempo - é prostituta e dona de um bordel e a noiva o traiu, engravidando de um de seus amigos mais próximos. O quadro político, social e sobretudo moral é tao caótico que Jakub começa a entrar em parafuso, incentivado pelo homem que o libertou da prisao, uma personalidade sombria e excêntrica.
"O diabo" é um filme de revoluçao. Foi censurado em seu próprio país, devido às cenas fortes e brutais criadas por Zulawski. Uma tentativa de salvaçao e morte de heróis da pátria. De certa forma, um atentado à "boa moral católica" tradicional polonesa. As constantes censuras em sua Polônia natal levaram Zulawski a mudar-se pra França, onde sua criaçao artística só continuou a expandir-se.
Zulawski é outro fruto da extraordinária Escola de Lódz, que formou, entre outros, grande gênios do cinema polonês e mundial, como Roman Polanski, Andrzej Wajda e Krzysztof Kieslowski.

Para a alegria de todos e a felicidade geral da naçao, "O diabo" será lançado em dvd pela Lume Filmes (que, diga-se de passagem, só tem tesouros): http://www.2001video.com.br/detalhes_produto_extra_dvd.asp?produto=19220


"Mamade Butterfly" (M. Butterfly - 1993; dir.: David Cronenberg)


Pra quem nao entendeu bulhufas dos filmes do canadense David Cronenberg, "Butterfly" é uma boa opçao. Um de seus filmes mais "lights", mas que nao deixa de apresentar alguns elementos recorrentes de sua cinematografia.
O contador René Gallimard, interpretado pelo maravilhoso Jeremy Irons, vai trabalhar na embaixada francesa na China, nessa época em pleno calor de seu regime comunista. Depois de assistir a uma apresentaçao da atriz Song Liling como Mme Butterfly, ele fica vidrado na misteriosa mulher.
Completamente ignorante em relaçao à rica cultura chinesa e ao modo de vida oriental, Gallimard começa a querer aprender mais sobre esse país, pra conseguir atingir a inalcançável Liling, uma mulher que é um verdadeiro labirinto. Envolvido nesse "coup de foudre" fatal, Gallimard fica cego de amor e acaba sendo irremediavelmente conduzido a um caminho sem retorno.
No final das contas, a gente pensa: o homem ocidental nao sabe absolutamente nada sobre o oriente. Ignorância pura. Pra mim, esse é o grande quê do filme todo.
"Madame Butterfly" é um o "filme diferente" de Cronenberg, um diretor voltado ao bizarro, ao excêntrico, às mutaçoes. Mas continua na sua constante linha de enigmas, como os que vemos em "A hora da zona morta" (1983), "Spider" (2002) e "Gêmeos - mórbida semelhança" (de 1988, bizarríssimo e brilhantíssimo). Jeremy Irons é a cereja do chantilly, sensualíssimo e extraodinário, como sempre e sempre. Vide "Gêmeos" - pra mim, um dos melhores (se nao for o melhor) trabalhos de sua carreira.


Espero que gostem!
Abraços,
Elis :-)

domingo, março 01, 2009

Vi, gostei e recomendo pra março/2009 - Por Elis Campos

Caros amigos

Venho por meio deste post tecer breves comentários sobre os filmes indicados pra este mês de março. Nunca havia feito isso aqui antes, mas como alguém me pediu que eu falasse brevemente sobre os filmes recomendados, cá estou eu para fazê-lo.
Clicando sobre cada pôster (localizados à direita da tela), você vai ser direcionado para páginas que fornecem as informaçoes básicas sobre cada filme.


"Batman - O retorno" (Batman returns - 1992; dir.: Tim Burton)

Ok, nunca fui fã de personagens dos quadrinhos que foram parar no Cinema. Aliás: personagens fantásticos, heróis e companhia nunca foram minha praia. Mas se tem um personagem "de mentirinha" com o qual eu simpatizo, é o Batman. E a mistura Batman - Tim Burton foi uma maravilha. Em "Batman - O retorno", Burton dá imenso destaque aos viloes (sua especialidade), nos trazendo personagens brilhantes, como o Pingüim (Danny DeVitto) e a Mulher-Gato, interpretada pela altamente sensual Michelle Pfeiffer, perfeita. Miaaaaauuu!
Pra mim o Michael Keaton foi o melhor Batman, até agora :-)

"O inquilino" (Le locataire - 1976; dir.: Roman Polanski)

Dando continuidade à minha pesquisa sobre cineastas poloneses e suas obras maravilhosas, me deparei com este tesouro do franco-polonês Roman Polanski. Talvez por pura identificação, o próprio Roman entrou na pele de um imigrante polaco que vai morar em Paris e passa a viver uma bizarra trama de mistério depois que aluga um apartamento, de onde a antiga inquilina cometeu suicídio pulando da janela. A sucessão de fatos é tão brilhantemente montada que deixa qualquer um perplexo. O final é uma pérola do mais puro humor negro. Sensacional.
"O inquilino" faz parte da famigerada "trilogia do apartamento", ao lado de "O bebê de Rosemary" e "Repulsa ao sexo". Daqueles filmes essenciais. Merece, e muito, ser visto.

"Cães de aluguel" (Reservoir dogs - 1992; dir.: Quentin Tarantino)

Primeiro longa-metragem de um realizador já contar com nomes como Tim Roth e Harvey Keitel? Algo assim só poderia vir num trabalho de um ótimo diretor, como Quentin Tarantino.
Seis criminosos se reúnem num grande roubo de diamantes, mas algo dá errado e o plano do "roubo perfeito" começa a se desmantelar completamente.
A partir de um roteiro aparentemente bastante simples, Tarantino faz um filme muito bom - o melhor de tudo está nas atuaçoes e, claro, na genial montagem, típica de Tarantino, com flash-backs e cenas muito, muito bem editadas. O final é pura reviravolta. Muito bom.

Divirtam-se!
Abraços

Elis :-)

sábado, janeiro 17, 2009

"Um sonho sem limites" (1995) - Por Elis Campos

Em minha aula de Écriture Scénaristique eu e meus colegas vimos dois filmes como exemplos de roteiros bem construídos. Um foi “Marcas da violência” (2005), de David Cronenberg, e outro foi “Um sonho sem limites” (1995), de Gus Van Sant. Gostei muito de ambos, mas o segundo me chamou a atençao pelo tema e o modo como foi abordado.

“Prête a tout” (disposta a tudo) é o título em francês, que eu acho lindo. Tao lindo quanto o original, “To die for”. Interessante como títulos realmente bem bolados ficam na nossa cabeça, e sao alguns dos fatores que nos deixam interessados em ver certos filmes. Quem me falou a primeira vez sobre esse filme foi Hugo, em uma de nossas agradáveis conversas sobre Nicole Kidman e seu talento extraordinário. O título do filme e sobretudo o pôster , que me chamou a atençao pelo azul e pela sensualidade da pose de Kidman (porque apesar de ser mulher, sei admirar a beleza de exemplares do mesmo gênero, e ser muito justa :-)), me causaram um efeito muito positivo. Como alguém já disse por aí, a imagem fala, e muito bem, mais do que palavras, em certas ocasioes. Pôster, pra mim, é mais da metade do sucesso na divulgaçao de um filme. Nossos olhos se deliciam em ver pôsteres bem feitos, e também gritam de horror diante de um Photoshop mal usado ou de uma montagem digna de Paint. É por isso que eu digo e repito: tem muita gente precisando aprender a fazer pôster de filme com os poloneses. Incontestavelmente eles sao mestres nessa verdadeira arte.

Eu amo o título “To die for”. E sempre quis saber porque danado esse filme tem esse título. Era alguma coisa “de morrer por”, e eu queria saber o que era. E foi uma grata surpresa vê-lo em minha aula de Écriture Scén.; nunca pensei na minha vida que veria esse filme uns 2 ou 3 anos depois de ouvir falar sobre ele, e nunca pensei que fosse vê-lo legendado em francês (um desafio! Kkkkkkkk!), na França. Coisas do destino! Às vezes fico gastando um tempao pensando nessas bobagens, e o pior: acabo escrevendo tudo no blog! Kkkkkkkkk!

Suzanne Stone (Nicole Kidman) é uma boneca de porcelana. Linda, quase perfeita. É, quase (porque definitivamente, perfeiçao nao existe na face desse nosso planeta). Seu jeitinho delicado, frágil e dócil é o que mais atrai o jovem Larry Maretto (Matt Dillon), que trabalha com o pai, proprietário de um restaurante italiano (Dan Hedaya) numa cidadezinha interiorana dos EUA. Larry está cada vez mais apaixonado, e revela pra irma (Illeana Douglas) que Suzanne é a mulher de sua vida, e que está decidido a se casar com ela.

Suzanne, garota bela, porém limitada, tem um sonho dourado: ser uma estrela do telejornalismo norte-americano. Mas ao longo de filme vemos que esse nao é um sonho comum. É, na verdade, uma obsessao, violenta e cega.

Após o casamento, Suzanne começa a correr atrás do estrelato. Manter seu belo corpo e os cabelos sempre prontos sao suas preocupaçoes constantes; afinal, como ela mesma diz, gente fora de forma nao tem chance na TV. Ao saber de uma vaga para secretária aberta numa micro estaçao de TV instalada em sua cidade, Suzanne se embala toda e vai entregar seu currículo, dizendo que está disposta a tudo. E está, mesmo.
Depois de muita insistência, ela consegue a tarefa de apresentar a previsao do tempo na retransmissora. E fica super empolgada em bolar mil e uma idéias de reportagens, documentários e uma penca de outros trabalhos do gênero. Na tentativa de pôr um de seus projetos em prática, Suzanne conhece três adolescentes de um colégio local. Ela quer fazer uma série de tv sobre o universo jovem, e sao os alunos Russel (Casey Affleck), Lydia (Alison Folland) e Jimmy (Joaquin Phoenix) que se alistam como seus voluntários. Os três têm duas coisas em comum: sao amigos e caíram de amores por Suzanne, cada um a seu modo. Aproveitando-se dessa simpatia que sabe despertar nos três, Suzanne vai conseguir pôr em prática o bizarro plano de afastar quem quer que seja do seu caminho de “sucesso” a qualquer preço.

O filme tem um formato bastante peculiar: temos a sensaçao de assistir a uma reportagem, um documentário, pela forma como sao mostrados os "depoimentos" dos personagens e pelo desenrolar da narrativa. Como num programa de TV. Às vezes rimos com alguns acontecimentos, e atitudes dos personagens, mas imediatamente depois que o filme acaba, paramos pra pensar na seriedade da situaçao apresentada.

Nicole Kidman está magnífica. Esse filme só me fez admirar mais seu talento. Ela sabe ser angelical quando precisa e demoníaca quando quer. E nos deixa pensando sobre o quanto o magnetismo e sagacidade de alguém pode conduzir situaçoes e pessoas ao bel prazer do dominador.
Ótima atuaçao de Joaquin Phoenix, ainda em início de carreira. Já se via o bom ator que ele é, e já se previa a chegada de ótimos trabalhos seus, como em “Gladiador” (2000) e “Johnny e June” (2005). Ele é excelente, e caiu muito bem no papel.

“Um sonho sem limites” nao é só um bom humor negro. É uma crítica de muito bem construída à mídia norte-americana e à nossa moderna sociedade de informaçao, que tem uma face obscura muito severa: a da imposiçao de padroes. Mesmo pra quem nao está dentro desse universo de estudos de mídia (seja como estudante de comunicaçao social, seja como pesquisador, seja como profissional do mercado), perceber essa tendência nao é difícil. Basta ligar a TV, porque é nela onde tudo está mais evidente.

Na mídia brasileira nos deparamos centenas de vezes com um certo “padrao de qualidade” que tolhe os bons profissionais ou os subistitui por carinhas bonitinhas e corpos “adequados” à moda. Desde a tola idéia de que um sotaque “nao fica bem no vídeo” à mais inaceitável teoria de que “tal cabelo é melhor que tal outro na TV”, vê-se que a situaçao é pior do que se pensa. E diante de tal quadro, o que encontramos sao profissionais lançados aos montes cada ano no mercado, e muitos deles alimentando verdadeiros sonhos megalomaníacos de sucesso.

A TV, verdadeiro espelho de Narciso, mexe com a cabeça de muita gente. E freqüentemente se transforma numa fábrica de seres milimetricamente iguais, todos pré-moldados. E no meio disso tudo, pra onde vai a criatividade? E a inteligência?

Cada um deve ter objetivos na vida. Isso é muito bom e louvável. O problema é quando se extrapolam limites, e sonho vira obsessao. Vale ressaltar que nada na vida se consegue sem esforço, dedicaçao e fé. E carinha bonita realmente nao dura pra sempre.

QUER VER O TRAILER?



QUER SABER MAIS SOBRE GUS VAN SANT? ACESSE:


PS.: Ótimo texto e excelente estudo sobre a obra do diretor.

POLONESES TRANSFORMAM POSTER DE FILME EM ARTE. VEJA ALGUNS EXEMPLOS EM:


CURIOSIDADES:

- Nicole Kidman ganhou o Globo de Ouro de Melhor Atriz em Comédia/Musical por seu trabalho neste filme.
- O diretor David Cronenberg faz uma ponta neste filme, em algumas das cenas finais.


Abraços!
Elis :-)


Título Original: To Die For
Gênero: Comédia
Tempo de Duração: 106 minutos
Ano de Lançamento (EUA): 1995
Direção: Gus Van Sant
Roteiro: Buck Henry, baseado em livro de Joyce Maynard