segunda-feira, fevereiro 18, 2008

"Sweeney Todd - O Barbeiro demoníaco da Rua Fleet" (2007) - Por Elis Campos

Meu povo!

Depois de séculos de ausência (me perdoem, eu estava de férias durante os dois últimos meses), volto aqui pra tentar atualizar o bloguito. Tanto é que esse post nem será sobre um filme que já tenha saído em dvd. Ele está em cartaz nos cinemas, esperando que você vá vê-lo, porque vale à pena.

Só existem quatro atores vivos pelos quais ponho minha mão no fogo no que diz respeito à grande capacidade de interpretar personagens excêntricos: Jack Nicholson, Willem Dafoe, Gary Oldman e Johnny Depp. Qualquer um desses quatro é garantia de um louco, estranho, psicótico, esquisito e incomum que realmente convença - cá pra nós: esse tipo de personagem é difícil de se fazer. Sejamos sinceros: ou o personagem fica incrível ou irremediavelmente falso - tudo depende do ator que o interpreta, não é mesmo?

Acho que cada ator e atriz segue, ao longo de sua carreira, um caminho voltado a um tipo psicológico específico - o bonachão, o perverso, o caubói, o durão, o sentimental - e alguns brilham ao seu estilo e no gênero no qual mais trabalham. Pra perceber bem isso, acompanhe com atenção a carreira de algum ator ou atriz. Veja seus filmes (dos mais famosos aos mais apagados), leia sobre ele (ou ela), assista suas entrevistas e você vai perceber qual é a linha na qual o profissional mais se dá bem.

Os quatro que eu citei acima têm talento todo especial para personagens, digamos, "incomuns":

Jack Nicholson fez "O Iluminado", "Batman", "Um Estranho no Ninho" e uma penca de outros maravilhosos filmes com protagonistas esquisitões e até bizarros;
Willem Dafoe fez "A sombra do vampiro" e o clássico Sessão da Tarde "Velocidade máxima 2" - que, por sinal, só se salvou porque Dafoe apareceu;
Gary Oldman fez "O Profissional", "Drácula de Bram Stoker", "Sid & Nancy" e vários outros personagens curiosos;
Johnny Depp fez "Edward Mãos de tesoura", "O Libertino" e o recém lançado na grande tela aqui no BR: "Sweeney Todd".

E é sobre Johnny Depp e seu incrível "Sweeney Todd" que vou falar agora.

Depp, que literalmente "fez a cabeça" (e porque não dizer que ainda faz :-)) das mulheres como o inesquecível Edward, está de volta, munido de navalhas ao invés de tesouras e pronto pra fazer barba, cabelo, bigode e pescoço de muita gente. E melhor: com Tim Burton de novo.

"Sweeney Todd - O barbeiro demoníaco da Rua Fleet" é um musical. Conta a estória de Benjamin Barker, um barbeiro casado com uma bela moça e pai de uma menininha. Vai tudo bem até o dia em que o juiz Turpin (interpretado pelo excelentíssimo Alan Rickman) põe seus olhos de cobiça na moça.

Disposto a tomar a mulher para si, manda prender Benjamin sem causa alguma para, enfim, conquistar seu objeto de desejo. Barker vai preso e Turpin começa a insistir para que a mulher lhe dê atenção. Um dia, manda chamá-la à sua casa prometendo que soltará o barbeiro da prisão, e alegando que deseja lhe pedir desculpas. A mulher, tão ingênua quanto o marido, vai falar com Turpin. Trancada dentro da casa dele e diante de um baile de máscaras onde não falta álcool, a moça começa a beber e vira presa fácil pro juiz, que aproveita-se dela e a estupra.

Isso tudo é narrado por Barker que, agora de volta a Londres e à liberdade depois de 15 anos de prisão, mudou seu nome para Sweeney Todd e está disposto a se vingar.

Ao chegar à sua antiga casa na Rua Fleet, percebe que ela está vazia. A vizinha, Mrs. Lovett (Helena Bonham Carter excelente), dona de uma loja de tortas imunda, lhe diz que a mulher, após o ocorrido, tomou veneno, e a menina, Johanna, está nas mãos de Turpin, que a cria como a uma protegida. Todd está arrasado e com ódio cada vez maior de seu inimigo. Lovett, depois de reconhecê-lo como o sr. Barker, devolve-lhe aquilo que era o seu instrumento de trabalho, que agora se tornará arma de sua vingança. Um conjunto de navalhas de prata que, como Todd diz, é a extensão de seu braço. A partir daí ele decide espalhar sua fama de melhor barbeiro da cidade, com o único objetivo de fazer sentar em sua cadeira o juiz Turpin.

Todd resolve, então, unir-se à Mrs. Lovett para pôr em prática seu plano de vingança: matar o juiz Turpin, seu bedel e recuperar a filha Johanna. Mas até cumprir seus objetivos, muito sangue vai jorrar e muitos pescoços vão "passar pela navalha". Mrs. Lovett aproveita a sucessão de acontecimentos para rechear suas tortas com carne sem precisar ir ao açougue e sem gastar nenhum tostão :-O
Mrs. Lovett e Todd não sabem, porém, que suas vidas sofrerão uma grande reviravolta, e que nada, nunca mais, será como antes.


Alan Rickman interpreta o perverso juiz Turpin, o arquiinimigo do barbeiro Benjamin Barker (Johnny Depp)

"Sweeney Todd" traz à tona, através do universo fantasioso maestralmente criado por Tim Burton, o lado mais degradado e negro da alma humana. Para Todd, todos merecem morrer e, de uma forma ou de outra, acabam sempre caindo no mesmo abismo da maldade e se contaminando com a sujeira e a imundície da natureza humana.
O filme é surpreendente e deixa qualquer um sem a mínima idéia de como será seu desfecho.

O diretor Tim Burton reencontra Depp, certamente um dos seus atores favoritos - não é à toa que eles já fizeram "A Fantástica Fábrica de Chocolates", "A lenda do cavaleiro sem cabeça" e alguns outros títulos juntos - e conta naquele jeito todo seu de contar uma estória digna de Edgar Allan Poe.
Depp tem, como sempre e sempre, uma atuação sensacional, irretocável, capaz de mostrar muito nitidamente os sentimentos obscuros de seu personagem. Helena Carter faz, com ele, uma dupla perfeita, que de tão boa deixa aquele gostinho de 'quero mais' depois que o filme acaba.
Rickman atua muitíssimo bem (como sempre!) e consegue ceder seu brilho ao filme sem ofuscar os demais.


Sweeney Todd (Johnny Depp) e Mrs. Lovett (Helena Carter) em cena do filme

Pra quem achou Kill Bill o supra-sumo da sangüinolência, depois de assistir a "Sweeney Todd" vai acreditar que o clássico de Tarantino virou filme pra criança. Desde a abertura, sinistra ao som da Tocata e fuga em ré menor BWV 565 de Bach, dá pra perceber que o clima será sujo, sombrio, bizarro e regado a muito sangue. Mas é genial e digno de aplausos.


Recomendadíssimo!


Para saber mais sobre esse musical, acesse:

http://www.cinemaemcena.com.br/ficha_filme.aspx?&id_noticia=17446&id_filme=2531&aba=cinenews

Abraços rubros!


Elis :-)